domingo, 4 de setembro de 2011

COMUNIDADE RURAL MAASAI

Visitei uma comunidade maasai que há uns oitenta anos se assentou perto do Monte Meru (a uns 30 Km do Centro de Arusha). Diante de uma seleta plateia de cem alunos de uma sala de aula na escola primária local desenhei o Mapa Mundi na lousa e me pus a falar sobre o Brasil e como eu tinha chegado ali... duzentos olhinhos arregalados. Depois, distribui canetas, enquanto eles entoavam uma linda música em maasai (foi um dos momentos sublimes da viagem).
Achei muito interessante as três perguntas que me fizeram: meu nome; se tinha filhos; minha religião.  Tratam do indivíduo (nome), da família (filhos) e do meio social (religião)... Dá um caldo para reflexões sobre os pilares culturais daquela comunidade específica.
Outra coisa que me chamou a atenção, após caminhar muito pela localidade, é a semelhança com as comunidades quilombolas do Paraná (as que eu conheço), inclusive os problemas que enfrentarão com o "pinus" (!). Intrigou-me o porquê de maasais saírem de suas terras tradicionais próximo ao Kilimanjaro (em Moshi) e virem parar em Arusha... Será que andaram distribuindo títulos de propriedade aos protegidos da colônia?! Será que alguma restrição ambiental foi imposta nas suas terras ancestrais?! No Brasil, assim foi.
Impressionante como o "Propriedade Privada" invade o mundo; mais impressionante, o poder de resistência, de recriação, de reinveção dos filhos da terra. Onde alguns vêem meras plantações, eu vejo barricadas. As ferramentas de trabalho são armas, que, ao cortarem a terra, garantem a posse e dão tiros certeiros no modelo hegemônico. A questão é saber se as flores (as hortaliças, as tuberosas, os cereais...) vencerão os canhões do Direito Moderno, com suas brilhantes formas calcadas na sacralização da propriedade, e, mais recentemente, no purismo ambiental.
Continuo pensando naqueles duzentos olhinhos a prestarem atenção no tosco mapa que desenhei no quadro. Que eles, guerreiros do futuro, sempre entoem em seus cânticos maasais alguns versos como aqueles do Caetano: "Terra! Terra! / Por mais distante / O errante navegante / Quem jamais te esqueceria?". E que sempre desconfiem de linhas imaginárias que impeçam a existência. "Maisha marefu!"







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