sexta-feira, 29 de abril de 2011

UMA REVOLUÇÃO SEM TIROS?

Se faz oportuno tecer um breve comentário sobre a ebolição revolucionária que representa uma vida em movimento. Não por acaso, o título aqui dado se reporta à pergunta que Ernesto Guevara faz a Alberto Granado, quando este devaneia sobre uma tomada pacífica do poder por um partido indígena... Naquele momento, a dupla percorria a espinha dorsal sulamericana, e seguramente ambos experimentavam uma grande revolução pessoal, que não demandou nenhum tiro. E assim podem ser as revoluções: silenciosas, mas poderosas; individuais, mas com potencial coletivo; contraditórias, mas capazes de grandes sínteses. Com efeito, em que pesem todas as intrusões culturais de um mundo globalizado, pode-se crer em novas trajetórias a romperem o pensamento dominante, isto sem nenhum tiro, pois o grande combate se dá no campo de batalha da emancipação do espírito.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

PURO CUBANO - "VIVA LA REVOLUCIÓN!"

Queria tomar uma caña, mas o antiinflamatório não permite.



RABANAL DEL CAMINO

20 Km depois de Astorga, com a tendinite controlada, a bela e bucólica cidade renova os ânimos.





UM CAMINHO, UMA VIDA

Dia 26. Eis-me em recuperação de uma tendinite, na pequena cidade Hospital de Órbigo (o nome é bem sugestivo, do menor ayuntamento de toda a Espanha). O hospitaleiro, Chema, um rastafari de Zaragoza, está no Caminho há mais de um ano, isto porque faz longas paradas nos albergues, onde trabalha e depois prossegue - diz que tem bastante tempo até o final da vida. E aqui cabe sintetizar-se uma reflexão iniciada há aguns dias, partindo do pressuposto de que o Caminho de Santiago pode ser traçado como um paralelo da vida (Chema o traça como se fosse a própria - isto é mais ousado)... São 790 Km, e cada 10 equivaleria a um ano de existência, assim desfrutada: nos primeiros 30 Km, se firma o passo, empolgado com a experiência bípede; entre 30 e 200 Km, com o vigor da juventude, se vai muito rápido; depois, até os 400, a boa comida e a boa bebida nos cativa e se vai diminuindo o ritmo; na fase seguinte, recupera-se os hábitos saudáveis, para, aos 500 ou 600 Km, depois de venturas e desventuras, sentir o peso da idade no Caminho; então, é hora de parar, cuidar da saúde para prosseguir sereno, lépido e faceiro ao destino, sem pressa e sentindo o valor de cada passo dado e por dar, sempre honrando a vida. Buon camino! Y buenas paradas!

HOSPITAL DE ÓRBIGO

Cidade e albergue ideais para reflexões.




terça-feira, 26 de abril de 2011

REALIDADE, MITOS E MISTICISMO

Até o momento, o caminho se apresenta como três experiências: uma concreta; uma mítica; e, por óbvio, a experiência mística.
Concretamente, existe um excesso de realidade no caminho. O peso da mochila (e a inevitável e constante pergunta do que realmente precisamos); o estado do corpo, principalmente os pés (que vao acumulando bolhas e outras dores); os lugares ideais para descanso (tem que se chegar cedo nos albergues, pois existem limites de vagas...). Mas este teor excessivamente concreto nos permite abstrair, principalmente quando se está caminhando (a mente voa...).
Miticamente, se está percorrendo o caminho de Santiago (o apóstolo), de cavaleiros templários, peregrinos que foram beatificados (Santo Domingo, San Juan de Ortega...), ou consagrados (alguns escritores, por exemplo)... Sao monastérios, claustros, castelos, fortalezas... que sao vistos hoje e também o foram há séculos. É de se acrescer que se trata de um "Itinerário Cultural Europeu", e, portanto, de um mergulho em espaços de grande significado histórico.
No campo místico, buscando-se um liame direto com um ser supremo, a experiência é forte. Mas creio que a força maior vem do próprio exercício metódico e dos devaneios que mencionei acerca do plano concreto; nos conectamos com o básico da vida (o ato de tomar água ganha enorme importância, pois um vacilo pode desencadear em resultados idesejáveis que malograriam a empreitada - a tendinite é um deles). Mas, também a convergência de objetivos daqueles que estao por aqui potencializa a experiência mística; todos buscam algo, todos deixam algo, todos se concentram na existência (Alguns também no vinho, afinal, "sin vino no hay camino" - esta cunhei e pegou por aqui). Eu pessoalmente me propus a fazer o caminho (que é difícil) e isto me transporta para um desafio existencial de concluir tudo aquilo que dependa somente do meu esforço.

sábado, 23 de abril de 2011

VILLADANGOS DEL PARAMO

20,4 Km depois de León e eis-me no albergue municipal de Villadangos del Paramo. E com a tendinite incomodando... O que parece fácil se torna difícil. Novamente a paciência se apresenta como a grande qualidade do peregrino. Em contrapartida, a possibilidade de conhecer pessoas e histórias novas. Um peregrino de Barcelona acaba de me indicar o albergue de um brasileiro que fica em Villafranca del Bierzo...
(ao lado, o albergue de Villadangos del Paramo)

sexta-feira, 22 de abril de 2011

FÉ E GLAMOUR

Albergue de Santa Maria de Carbajal





BLOGGER

Postando material


VIA ROMANA

No dia 20, devido a uma chuva torrencial, acabei saindo do Caminho Francês e, na Rota Romana (Via Trajana), fui parar em Calzadilla de los Hermanillos; cheguei no albergue de lá quebrado, com uma tendinite, e fui atendido por uma senhora francesa muito atenciosa que me mostrou um texto (de um peregrino grego) intitulado ÍTACA, que tratava do retorno de Ulisses ao seu lar e trazia as seguintes reflexões: necessidade de paciência na jornada e de resignação para encontrar o porto de partida sem grandes riquezas, mas com o grande mérito de ser a estrutura que permitiu a ODISSEIA. Eis o grande misticismo do Caminho de Santiago: jornadas fatigantes em profunda reflexão; dificuldades físicas; mudanças de rumo e de tempo... Inesperadamente, um texto deixado por um grego em um albergue... Escancarado para sinais e outras percepções, impossível não experimentar um mínimo de encontro com algo além da matéria... Hoje estou em León. Já percorri quase 500Km e creio que em dez dias concluo o caminho, completando os 280Km faltantes. Se não fossem pequenos desvios, estaria adiantado... Mas por aqui até nos desvios se ganha. Prossigo na Odisseia, sem temer a Posseidon ou a Medeia.

LEON

Sexta-feira Santa



terça-feira, 19 de abril de 2011

CAMPOS DE CASTILHA





CRIATIVIDADE



Para se viver um sonho com ardor, é preciso mais que ser bom sujeito, é preciso ter muito peito, peito de remador. Parafraseando o velho "Vina" homenageio o português da foto, que viaja com uma carrocinha (gaiota, no bom reservês) e pode puxar muito mais coisas que em uma mochila. Ele está viajando há mais de três meses e já percorreu em torno de 1.600 Km.  

domingo, 17 de abril de 2011