sábado, 29 de outubro de 2011

OS HITITAS E A HISTÓRIA CLÁSSICA

Estive em alguns sítios das civilizações mais festejadas (grega, romana, bizantina e otomana), mas pisar numa colina onde se instalou a capital do Império Hitita me deixou perplexo.
Claro que Pérgamo e Éfeso empolgaram, mas Hattusas, na atual Bögazkale, disse mais: outros povos contribuíram para aquilo que se intitula "processo civilizatório". Pus-me a pensar que a "história clássica" é mais um ocultamento do que um desvelamento, apenas defende a versão que interessa; é, em boa medida, a história da verdade: um conjunto de narrativas com pretensão de certeza. O que os compêndios dizem em breve bosquejo está esmiuçado na pedra, em símbolos decodificáveis, sobre o "Povo de Hatti".
Os hititas vieram do Cáucaso para a Anatólia e só por isto mereceriam destaque em qualquer manual de história. Trata-se de um incomum fluxo migratório no sentido norte-sul do Velho Mundo que resultou num sofisticado império, de um povo dotado de desenvolvida escrita, arquitetura monumental e sistemáticas relações político-comerciais com outros povos (existem tratatos firmados em placas de bronze).
Escavações trouxeram à tona detalhes da sociedade em questão. Mesmo assim houve resistência da comunidade científica, que só se rendeu frente às provas materiais obtidos com precisos métodos arqueológicos.
Quiçá a boa arqueologia ainda desminta a história da verdade contando a verdade da história, contribuindo para que  outros povos e outras narrativas participem do discurso.








quarta-feira, 26 de outubro de 2011

CAPADÓCIA

De centro do desenvolvimento do cristianismo nos primeiros séculos ao intenso e sofisticado turismo nos dias de hoje. Difícil é encontrar os remanescentes dos autores do legado ao Patrimônio Histórico Cultural.









sábado, 22 de outubro de 2011

NOMADISMO E INQUIETUDE

Uma vez recebi a seguinte assertiva: "É a inquietude da alma humana que nos torna nômades". Talvez aqui esteja uma ponta do mistério da atração pelo movimento.
A nossa inquietude nos faz buscar outros espaços, que podem ser no campo material ou imaterial.  Aqui, a abstração no campo da criação; lá, a concretude no movimento.
Nunca paramos. Nosso espírito se movimenta e muitas vezes somos por ele compelidos a exercícios reais. No meu caso, o nomadismo resulta diretamente do inconformismo com a estagnação e da necessidade de renovar as energias utópicas.
Sempre concordei com a afirmação kantiana no sentido de que para conhecer o mundo basta conhecer bem a nossa aldeia. Mas, agora, sei que é impossível para uma aldeia dar conta de todos os mundos possíveis e existentes no real concreto.
Buscar a multiplicidade "in loco" é uma forma aristotélica de conduta, da, qual sou adepto, sem deixar se reconhecer que algumas estruturas são recorrentes (ora transcendentes; ora imanentes).


sábado, 15 de outubro de 2011

ENTRE TRÓIA E ÍTACA

Há muito que reflito sobre a Ilíada, principalmente sobre o desfecho da guerra relatada. Enquanto alguns consideram como a síntese da traição, e outros, o resumo da astúcia, para mim o Cavalo de Tróia representa o quanto a vaidade pode ser a maior inimiga de indivíduos e coletividades.
Menelau foi vaidoso, pois pensou que por ser irmão de Agamenon (líder grego), não precisava dedicar-se ao lar. Páris, por capricho e valendo-se da sua realeza, expõe sua família e seu povo. Os troianos, convictos da sua superioridade, aceitam o "Presente de Grego".
Neste ponto a Ilíada destaca a soberba de Aquiles, que se pensava invencível e esqueceu de seu ponto fraco. E, por derradeiro, mostra que Ulisses, prepotente por tombar a grande fortaleza, desafia os deuses e, por isto, é condenado a vagar pelos mares sem conseguir voltar para sua terra.
Começa a Odisseia, onde, penso, a vaidade foi vencida pela humilde persistência, pois o herói obteve êxito quando se resignou.
No retorno a Ítaca, muito simbólico que o personagem seja, de pronto, reconhecido por seu cão, síntese da lealdade. Depois, o engajamento de Telêmaco nos planos de luta, em sintonia com o grande significado da cumplicidade familiar. Por fim, a significativa espera de Penélope, exemplo de amor e companheirismo.
(...)
É o que podemos desejar em qualquer travessia: um porto de chegada; encontar quem nos é leal; compartilhar planos com os confiáveis; a possibilidade de viver sentimentos verdadeiros. Sonhos homéricos...      







quinta-feira, 13 de outubro de 2011

IMAGENS E SEMELHANÇAS

No Nepal encontrei um verdadeiro testemunho dos movimentos de populações, étnica e culturalmente falando. O assunto é de grande fôlego, impossível de ser alcançado sem um bom estofo de pesquisa, desde os bons livros da antropologia clássica até os modernos trabalhos da geografia humana. Assim, destituído de tais fontes, vou me limitar a uma impressão que se destacou: os traços hindus mesclados às características asiáticas do leste resultam numa confluência similar àquela verificada muitos séculos depois entre os ibéricos e o indígenas americanos.
Afinal, qual a relevância das presentes constatações? Para minha experiência pessoal se destaca o falseamento de uma hipótese: a existência de um conjunto de características físicas estanque em rincões tradicionais. Nisto tinha um interesse específico, quando pensava em desenvolver uma técnica para elaborar "retratos falados" de personagens históricos tão somente à partir de suas bases populacionais... Impossível! Conquanto já tivesse abandonado meus ímpetos cartesianos para a produção plástica, fato é que "não há um tipo humano específico deste ou daquele lugar"... e, mais, "os movimentos determinaram e determinam mesclas étnicas e culturais constantes".