Estive em alguns sítios das civilizações mais festejadas (grega, romana, bizantina e otomana), mas pisar numa colina onde se instalou a capital do Império Hitita me deixou perplexo.
Claro que Pérgamo e Éfeso empolgaram, mas Hattusas, na atual Bögazkale, disse mais: outros povos contribuíram para aquilo que se intitula "processo civilizatório". Pus-me a pensar que a "história clássica" é mais um ocultamento do que um desvelamento, apenas defende a versão que interessa; é, em boa medida, a história da verdade: um conjunto de narrativas com pretensão de certeza. O que os compêndios dizem em breve bosquejo está esmiuçado na pedra, em símbolos decodificáveis, sobre o "Povo de Hatti".
Os hititas vieram do Cáucaso para a Anatólia e só por isto mereceriam destaque em qualquer manual de história. Trata-se de um incomum fluxo migratório no sentido norte-sul do Velho Mundo que resultou num sofisticado império, de um povo dotado de desenvolvida escrita, arquitetura monumental e sistemáticas relações político-comerciais com outros povos (existem tratatos firmados em placas de bronze).
Escavações trouxeram à tona detalhes da sociedade em questão. Mesmo assim houve resistência da comunidade científica, que só se rendeu frente às provas materiais obtidos com precisos métodos arqueológicos.
Quiçá a boa arqueologia ainda desminta a história da verdade contando a verdade da história, contribuindo para que outros povos e outras narrativas participem do discurso.
Este blog registra caminhos, culturas, personagens e impressões vivenciados durante um período sabático empreendido com o intento de conhecer os efeitos do nomadismo na experência humana. Seguramente se trata de repertório parcial, vinculado a escolhas acumuladas durante uma história pessoal pautada por descontinuidades e rupturas contundentes.
sábado, 29 de outubro de 2011
OS HITITAS E A HISTÓRIA CLÁSSICA
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