segunda-feira, 30 de maio de 2011

NAVEGAR É PRECISO

Há uns dias passei a refletir sobre a afirmação que Fernando Pessoa faz em um dos seus famosos poemas, vaticinando no verso seguinte que "Viver não é preciso". E me chamou a atenção para o problema semântico que pode ser aqui levantado: preciso/necessidade ou preciso/precisão.
Ao que parece, os versos de Pessoa (ortônimo) se referem à "necessidade". Mas há que se reconhecer que a precisão dos atos de navegar poderiam dar o tom da tese/antítese, pois viver é impreciso. Nos lançamos no mar da vida e até fazemos planos, mas não há regularidade nos ventos, nas correntes nos equipamentos de bordo... Bordejamos e, às vezes, vamos à pique mesmo quando estritamente corretos. Quantas surpresas nos aguardam, por mais que sigamos todas as regras do bom-viver!
Eis a grande lição: a vida é incerta (e ai daquele que duvida...), e, se a levarmos como bom navegadores, temos melhor chance. Nem sempre a melhor direção é a mais direta (para se ir a Oeste, muitas vezes conduz-se a nau a Leste).
Mas afinal, será que o poeta dos heterônimos não pensou na heterossemântica? Considerando a multiplicidade pessoana, é bem possível que ao menos Álvaro de Campos cogitasse a questão ora levantada. E, assim, talvez dissesse: viver é necessário, embora impreciso.
(texto escrito no balcão de "A Brasileira", um dos bares que Fernando Pessoa frequentava em Lisboa) 


Um comentário:

  1. Muito bem dito nobre companheiro.
    Navegar na vida, nesse mundo de idéias,realmente não é uma coiza preciza porém, necessária. Temos que entender que estamos a merce das condições climáticas da existência..
    Um grande abraço indio véio, sorte na navegação e vê se não esqueça do xiruzito aqui.

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