sexta-feira, 6 de maio de 2011

MORTE E VIDA PEREGRINA

A pergunta mais recorrente no itinerário é "Por que estás caminhando?". As respostas são variadas (promessa, desafio, devoção, curiosidade...), mas, creio, todas pressupõem um exercício constante: morrer para a vaidade. A caminhada oferece adversidades que tornam o peregrino um personagem quixotesco, "cavaleiro da triste figura", disposto a rasgar um naco de pão e saboreá-lo puro, enquanto descansa os pés na soleira de um velho casarão abandonado. É bem verdade que existe uma boa estrutura de locais para alimentação em todo o percurso, mas em alguns (como ocorreu em La Rioja) sequer deixam as "esquálidas figuras dúbias" sentarem à mesa; não raro o aviso "NO MOCHILAS" dá o tom hostil.
Mas e a vida peregrina? É um ciclo fantasticamente didático: aprende-se a contar passos; reforça-se a percepção sobre necessidades vitais; abre-se para novas narrativas... A vida peregrina é por vezes enfadonha, mas sempre surpreende, nos detalhes das paisagens, na riqueza das histórias e nos pitorescos acontecimentos (um finlandês, falando na sua língua, pedindo o meu canivete emprestado; um romeno, em romeno, pedindo para eu filmá-lo caminhando; um alemão tomando cerveja às 8h da manhã, com vinte quilômetros por fazer...).
Hoje, 7 de maio, por volta das 13h (8h do Brasil), estarei chegando em Santiago de Compostela, e a sensação é formidável. Tem-se a certeza que o Caminho começa, mas nunca acaba. E viva a vida peregrina!

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. A vida do ser humano é uma grande peregrinação. Sempre foi assim, desde os primórdios. Levar uma vida acomodada, sem grandes desafios, no fundo, vai contra a natureza humana.Fazer este caminho reaviva o espírito. O corpo sofre mas o espírito se liberta..
    Peregrinar é precizo.
    Valeu nomade, um grande abraço.

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