domingo, 15 de maio de 2011

FINISTERRA EM REVISTA

O fator mais tenso da peregrinação/andança seguramente foi a tendinite, que incomodou muito, principalmente porque poderia implicar na interrupção do projeto nômade... Mas dessa adversidade vieram resultados muito positivos: aprendi a respeitar os meus limites e a cuidar de mim; conheci o Sasaki, com quem conclui o caminho até Santiago de Compostela; encontrei "Lobo", uma figura mítica de uns 80 anos (que há 15, depois de fazer o Caminho, recebe pessoas e as ampara no albergue municipal de Astorga)...
"Lobo" me premiou com as seguintes reflexões: "o Caminho é uma vida livre"; "o peregrino não tem nenhuma obrigação, exceto respeitar o descanso dos demais peregrinos" (fantástico e quase kantiano - próprio de um alemão); e, por derradeiro, "muito antes do cristianismo, os celtas faziam o caminho até Finisterra para seus rituais druídicos". Desde então reascendeu a vontade de ir até Finisterra, que, embora no meu plano inicial, estivera dormente por um bom tempo... (Mas somente iria se não me sentisse obrigado a tal, pois seguiria o enigma da enfinge "Lobo").
Ao chegar em Santiago de Compostela, depois de receber a "Compostela" (o "diploma" do peregrino), senti que faltava algo (90 Km, talvez?!...). No dia seguinte veio a grande motivação: fui lembrado pela Vera (amiga e anjo da guarda) que era dia das mães e seria oportuno lembrar dos ensinamentos da "Grande Mulher". Foi inevitável associar os 79 anos que a Dna. Alzira viveu pelos próprios esfoços, equivalente, na minha analogia, a 790 Km de caminhada até a Catedral de Compostela (vide texto: UM CAMINHO, UMA VIDA), o que não é pouco. Então, lembrei que a guerreira foi além, até o último sopro de vida... Somente em Finisterra poderia fazer uma homenagem à altura.
Tenho que confessar que no segundo dia de caminhada, tendo percorrido uns 40 Km, pensei em desistir. Inclusive imaginei o que a Dna. Alzira diria para mim: chega, filho; você não é burro de carga... e daí por diante (ela pegava pesado e batia no ponto). Mas eis que aparece outra figura no Caminho, Oclair, um brasileiro bom de passo (mais uma vez o Caminho presenteando novos amigos).
Os últimos quilômetros foram eletrizantes. Quando vimos o mar, berramos como loucos... Faltando 3 Km, caminhávamos a uns 7 por hora... Víamos o farol, mas o "bicho véio" não chegava nunca... As plantas dos pés chegavam a arder (só naquele dia, 11 de maio, foram 35 Km)...
Chegamos, fomos até onde a perna permitiu (Oclair foi até a água - manobra ousada...). Show! Agora sim, missão cumprida. E vendo o sol se por no mar... FIM, fim da terra, Finisterra (ou, em galego, Fisterra). Agora só a nado... E, aqui, lembro a grande lição da Dna. Alzira: "Dar o melhor de si, até o final".

2 comentários:

  1. Caríssimo André!
    Que bela homenagem à dona Alzira. Ela deve estar orgulhosa de você ela lição aprendida por você e que ela ensinou: "ir até o fim".
    Peço licença para me sentir orgulhosa também pela sua empreitada e ter colaborado para que você desse alguns passos nesta direção.
    A vida é o caminho. Continue caminhando com passos firmes ao encontro de sua felicidade todos os dias.
    Forte abraço
    Chove e faz frio na manhã d edomingo em Curitiba
    Vera Psi

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  2. Brilhante homenagem a sua amada mãe meu caro amigo. Eu também lembrei bastante da minha, penso até que, de alguma forma inexplicável, as mães estavam juntas torcendo por seus dois mais novos..
    Grande abraço my brother!

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